Entrevista na blogosfera

28 novembro 2005

... a uma das autoras que farão parte do nosso livro. Aqui.

Publicar a lista dos trabalhos rejeitados?

21 novembro 2005

O Octávio Aragão sugere nos comentários que publiquemos uma lista com os trabalhos que não aceitámos na antologia. Devo dizer que compreendo a curiosidade, também gostaria de ver essa lista publicada. Mas não o vou fazer: a divulgação dos contos não aceites nunca fez parte das regras, e pode haver autores que não fiquem muito contentes por ver os seus trabalhos assim expostos, o que é uma posição inteiramente respeitável.

Por isso, a resposta que eu dou ao Octávio é a seguinte: estamos dispostos a divulgar uma lista com os títulos de todos os trabalhos não aceites, cujos autores nos manifestem a sua concordância com essa divulgação. Por mim, posso divulgar já os meus. Quem o quiser fazer também poderá manifestar essa vontade nos comentários (ou via email) e este post será alterado em conformidade.

Wolmyr Alcantara
- Dejà vu
- O oceano é um só
- Reunião de família

Octávio Aragão
- A Carne do Império
- As Mãos Vermelhas de Isolda

Jorge Candeias
- Aniversário
- Em busca das cabeças perdidas

"Europa"
- O Oásis

Alexandre Heredia
- O Toque Invisível

Carlos Orsi Martinho
- Campo Total

Carlos Patati
- A Estação das Brumas

Gerson Lodi-Ribeiro
- As Praias Vazias de Jokerman

Ana Cristina Rodrigues
- A Morte do Temerário
- O Templo do Amor

João M. S. Silva
- A Mansão
- M. R. O.
- O Templo

Sobre os trabalhos não aceites

Quem de 71 tira 16, fica com 55. Este bocadinho de informação básica e lapalissiana pode, apesar disso, servir de ponto de partida para muita coisa.

Atirado assim o número, e sabendo-se o seu significado, fica expressa a única coisa que esses 55 trabalhos têm em comum: o facto de não terem sido aceites por nós para figurar neste projecto. Tudo o resto é diferente. Há uma novela e há contos de 300 palavras, há ficção científica, fantasia, horror e também contos onde não encontrámos nem ficção científica, nem fantasia, nem horror, nem nenhum outro dos ramos do género fantástico e há contos que não nos pareceram de todo publicáveis e outros que só recusámos com muita pena.

Apesar do que ficou dito acima, da variedade, e também daquilo que não nos chegou às mãos, emergem alguns padrões, alguns grupos, tendências ou ausências.

Começando pelo fim: as ausências.

Não recebemos nenhuma FC hard moderna. Embora alguns contos, invariavelmente provenientes do Brasil, tentassem um ambiente hard, todos pecavam por uma muito grande falta de actualidade científica e em nenhum se vislumbravam as mais recentes tendências e descobertas da ciência. Mas se os brasileiros ainda tentaram, os portugueses nem isso. De Portugal não nos chegou um único conto que pretendesse ser FC hard, o que não deixa de ser curioso.

Por outro lado, os contos de FC que, de um lado e de outro do Atlântico, mais eficientemente e mais actualizadamente integraram a ciência e a tecnologia na história mostraram uma abordagem soft ao género, por paradoxal que pareça. Isto é, pode-se dizer que recebemos material moderno que se poderia publicar numa revista como a Asimov's, mas não numa Analog.

Este foi, aliás, um dos motivos mais frequentes de rejeição. Não adianta escrever em 2005 a mesma ficção científica que Asimov e os seus contemporâneos escreviam em 1955 ou 1965, mesmo que o cinema e a televisão estejam hoje a adaptar e reciclar essas velhas histórias. A literatura está muitíssimo mais actualizada. Notámos demasiados escritores a cair nessa armadilha, tantos que este foi um dos grandes padrões a emergir das submissões. E não aceitámos nenhuma destas histórias.

Comparativamente, recebemos muito pouco material das componentes não-FC do género fantástico, com excepção do terror. Entre fantasia, fantástico, surrealismo e história alternativa, recebemos apenas 20 contos, mais quatro que os de terror, menos onze que os de FC (o resto são contos que não achámos enquadráveis no género fantástico). A fantasia, em particular, primou pela ausência, em especial aquela fantasia que mais sucesso tem feito nos últimos tempos. Por um lado foi bom, pois não nos interessaria a n-ésima remastigação do Senhor dos Anéis ou de Dungeons and Dragons, mas não é impossível escrever boas históirias originais no género e essas gostaríamos de ler e provavelmente publicar. Não foi desta.

Também muito escasso foi o fantástico propriamente dito. Já contávamos com essa escassez, dado que a pouca divulgação que o projecto teve aconteceu principalmente entre as pessoas ligadas à FC, fantasia e terror e os escritores que escrevem fantástico (e maravilhoso) se movem tradicionalmente em círculos mais próximos do mainstream. Talvez tenhamos mais material desse em próximas edições, se tudo correr bem.

No que ficou escrito acima, já falei da principal tendência que se nota no material submetido em geral e que muito contribuiu para uma boa parte das rejeições: uma certa "antiguidade", um certo grau de obsolescência. Falei da FC, mas isto não se resume à ficção científica: também em muitos contos de terror notámos essa característica, como se os escritores tivessem receio de assumir uma voz própria e procurassem em vez disso imitar os seus ídolos. O problema é que Poe e outros grandes escritores de terror escreveram há 50-100 anos ou mais e é bom que os seus seguidores modernos não se deixem prender em demasia pelo que eles fizeram.

Tanto mais que até nos pareceu ver talento em várias destas histórias mais "antigas". Talento que poderia e deveria ser melhor aproveitado, em histórias mais sofisticadas, mais libertas de amarras, e por isso mesmo mais fortes.

Em todo o caso, o nível geral das submissões supreendeu-nos pela positiva. Poderia ser editado um livro bastante interessante com os melhores trabalhos que recusámos, mesmo se para isso tivessemos de incluir aqueles que não achámos adequados à nossa proposta, apesar das suas qualidades intrínsecas. Estou a lembrar-me, por exemplo, de uma óptima noveleta que acabou por ficar de fora por ser muito extensa e muito semelhante a uma outra noveleta que achámos um pouco melhor. Ou vários contos que foram recusados por haver outros contos dos mesmos autores que tiveram a nossa preferência. Ou contos que gostámos de ler mas onde não vimos elemento fantástico suficiente.

Tenho a certeza (e a esperança) de que acabaremos por ver vários destes contos em livro, de uma forma ou de outra. E julgo que cerca de metade de todos os trabalhos que recusámos são trabalhos que fariam boa figura em publicações amadoras, em fanzines ou na web. Por isso também os autores que ficaram de fora estão de parabéns. Esta antologia também será vossa. Obrigado.

O que vem a seguir

14 novembro 2005

Nas caixas de comentários vão-se declarando curiosidades sobre uma série de coisas. Dar-vos-emos respostas a tudo durante os próximos dias, numa série de posts com algum desenvolvimento, que estamos a preparar. Este é o primeiro e fala sobre aquilo que, no nosso entender, é o mais importante: o futuro próximo.

Quando contactámos editores, sondando-os sobre a possibilidade de publicação deste projecto nas suas casas, a resposta que recebemos foi sempre a mesma: "façam a antologia e depois mostrem-na". Portanto, foi isso que fizemos. O fundamental foi, claro, escolher os contos, mas o trabalho não acaba aí e é o resto, o que falta, que nos irá ocupar nos próximos tempos.

Isto significa uma série de tarefas: organizar os contos na sequência mais adequada para potenciar o prazer da leitura, escrever uma introdução ou um prefácio e, talvez, escrever pequenas introduções a cada conto. Há aqui coisas que ainda não decidimos (se vale a pena escrever já as introduções individuais para os contos, ou até se vale a pena fazê-las) mas o nosso trabalho prossegue. Há minutos, por exemplo, tomámos a decisão de escrever só uma introdução geral, a meias, em vez de deixar que cada um dos dois organizadores escrevesse a sua.

Entre organizar os contos e escrever a introdução é provável que se gaste uma ou duas semanas (a desvantagem de escrever a meias é que o texto tem de andar para trás e para a frente uma série de vezes até ficar pronto), ou mais se decidirmos introduzir (já) conto a conto. De seguida, mas o mais depressa possível, enviaremos o produto final aos editores. E então voltamos todos à fase de roer as unhas.

Pessoalmente, estou convencido de que qualquer bom editor, assim que ler a nossa proposta, quererá publicá-la. Estou convencido de que não teremos grandes problemas em pôr cá fora este volume. Mas nunca se sabe. A partir de um certo ponto é o editor que tem a última palavra. Foi em boa medida por causa desta incógnita que dissemos nas regras que o projecto poderia ter de ser cancelado em qualquer altura.

A promessa é que iremos fazer os possíveis para que isso não aconteça.

Os organizadores enquanto autores

É sempre um pouco delicada a situação dos organizadores de uma antologia quando são também escritores e, portanto, interessados em ter trabalhos seus no produto final. É algo que abre espaço a críticas, umas vezes legítimas, outras nem tanto. Mas é algo muito comum: excepto quando a antologia se refere aos vencedores de um determinado prémio, ou quando procura reunir os melhores trabalhos de um certo período de tempo, os organizadores costumam incluir-se, seja cá nos países de língua portuguesa, seja lá fora. Bruce Sterling incluiu dois trabalhos seus, escritos em colaboração com outros autores, na antologia cyberpunk original, a Mirrorshades, Asimov metia quase sempre contos seus nas antologias que organizava, em Portugal António de Macedo foi presença assídua nas antologias da Simetria e o mesmo aconteceu à família Moreira quando tomou as rédeas do projecto, José Manuel Morais incluiu um conto seu n'O Atlântico tem Duas Margens, Octávio Aragão publicou trabalho seu na antologia Intempol, Gerson Lodi-Ribeiro fez o mesmo com as antologias editadas pela Ano-Luz, e muitos mais exemplos poderiam ser dados.

O organizador/autor tem algumas vantagens relativamente aos restantes autores: a mais importante é que sabe qual vai sendo o nível dos contos que vão chegando, e portanto sabe (se tiver sentido de auto-crítica) se os seus trabalhos estão no nível certo ou precisam de ser melhorados. É que não faz bem nenhum a coisa nenhuma (nem à carreira do organizador/autor, nem à antologia, nem à credibilidade do projecto) quando um organizador inclui numa antologia um conto que se destaca pela negativa. Mas também tem desvantagens, pelo menos quando faz as coisas como nós fizemos: se um organizador tem um conto pronto e aceitável e de repente alguém submete uma história muito semelhante, lá se vai o conto do organizador a caminho de outra edição qualquer porque deixa de ser viável incluí-lo na antologia. Com razão ou sem ela, seria demasiado fácil que surgissem acusações de plágio e seria muito difícil sacudi-las.

Nós decidimos que no fundamental os contos dos organizadores iriam competir com os outros em pé de igualdade, com o critério principal a ser a qualidade (e o secundário mais importante o equilíbrio da antologia), mas também fizemos um acordo tácito: quem avaliou o meu trabalho foi o Luís, quem avaliou o do Luís fui eu, e não estivemos com paninhos quentes. Como resultado, eu tive dois contos rejeitados e ao Luís aconteceu precisamente que um dos contos que nos chegou (por acaso é um dos aceites, mas até poderia não ter sido) era demasiado parecido com um dele, que acabou, por isso, por ficar de fora. E pensamos que aqueles que escolhemos não só se enquadram perfeitamente no global do volume como que este perderia sem eles.

Mas aqui o juiz último é o leitor. Ele dará a sua opinião quando ler as histórias, e é essa a opinião que, tudo somado, mais conta.

E já está

Pronto. Esta etapa chegou ao fim. Já temos os contos seleccionados, os autores informados e a antologia composta. Sem mais delongas, os contos que escolhemos para fazer parte da antologia são (por ordem alfabética):

- A Irmandade - Carlos Patati
- Assassinos de Sobreiros - João Ventura
- Digital Eden - Gabriel Boz
- Disse a Profetisa - Carlos Orsi Martinho
- Fome de Pássaro - Ivo Robert
- Hinos a um ser Superior - David Soares [anulado - vide este post]
- Isle of Man - Luís Filipe Silva [anulado - vide este post]
- Littleton - Jorge Candeias
- O Deus das Gaivotas - António e Jorge Candeias
- O nevoeiro que desvendou realidades - Sofia Vilarigues
- O Pico de Hubert - Telmo Marçal
- Oberon - Wolmyr Alcantara
- Para tudo se acabar na quarta-feira - Octávio Aragão
- Ponte Frágil sobre o Nada - Maria Helena Bandeira
- Resíduos Sólidos Urbanos - João Ventura
- Xochiquetzal em Cuzco - Carla Cristina Pereira

Os nossos parabéns a todos. São 16 excelentes contos.

Está quase...

10 novembro 2005

... está mesmo quase! Já só falta decidir um pormenor para termos antologia.

As notas é que estão bastante atrasadas, que isto de fazer notas personalizadas para algumas dezenas de contos, tentando equilibrar a vontade de informar os autores do motivo da rejeição (porque achamos que essa informação é muito importante para os próprios autores, para os fazer reflectir sobre a sua escrita e crescer enquanto autores ou, no mínimo, para tomarem melhor consciência das nossas opções no que à literatura fantástica diz respeito - e também porque pautámos este projecto, desde o princípio, pela transparência) com a obrigatoriedade de não ser duro, não desmotivar, dar mesmo um incentivo ao prosseguimento e aprofundamento do trabalho, dá uma trabalheira dos diabos.

Esse trabalho irá prolongar-se pelos próximos dias. Esperamos tê-lo concluído antes da apresentação das nossas escolhas, no Fórum Fantástico, no próximo domingo, mas neste momento ainda não temos certeza de sermos capazes disso.

Sejamos ou não, a antologia será apresentada no Fórum Fantástico, que começou hoje. Temos sessão marcada para domingo, dia 13, pelas 17:30. Apareçam!

Tons de verde III

08 novembro 2005

E pronto: já só temos contos verdes e vermelhos. Os verdes são aqueles que gostaríamos de aceitar, já na sua maior parte "encolhidos" a um conto por autor (e houve vários autores que nos propuseram dois ou três contos que gostaríamos de publicar), os vermelhos são aqueles que ficarão de fora. Ainda não tivemos tempo de escrever e enviar as notas respeitantes a cerca de dezena e meia destes últimos, mas fá-lo-emos nos próximos dias.

Problema: somados, os verdes claros e os verdes escuros dão 20 contos e cerca de 500 páginas! Há a tentação do calhamaço, mas não vai poder ser: alguns destes contos terão de ser preteridos...

É essa a decisão seguinte.

Desagradável

07 novembro 2005

Esta é a primeira parte verdadeiramente desagradável deste processo: escrever e enviar notas de rejeição sobre os contos preteridos, sabendo perfeitamente que cada uma delas irá causar desapontamento e tristeza.

Mas faz parte. É a única forma de no fim ter os melhores. E também, quem sabe, de estimular os autores preteridos a se esforçarem mais e fazer melhor na tentativa seguinte.

É, pelo menos, essa a esperança.

Tons de verde II

06 novembro 2005

Reparo nas caixas de comentários que há pessoal muito ansioso, por isso decidi dar-vos um cheirinho do ponto em que as coisas estão.

Estamos a ler, comentar e comparar os contos. Vamos excluindo alguns, colocando outros na lista das prováveis exclusões, outros em espera, para proceder a uma análise mais aprofundada e, e eis aquilo que vocês querem ouvir, outros na lista das prováveis aceitações.

Não vou falar das exclusões ou das esperas. Digo-vos apenas que temos dois graus de verde: verde escuro para os contos que quase de certeza farão parte da escolha final e verde claro para outros contos que consideramos bons e gostaríamos de publicar mas por uma ou outra característica poderão acabar por ser preteridos. Alguns dos verde claros sê-lo-ão de certeza, e até talvez o mesmo aconteça a um ou outro dos verde escuros.

E neste momento, temos sete contos na lista verde escura e outros sete na verde clara. A coisa vai.